quarta-feira, 15 de agosto de 2012


6.8- Falecimento de CJM


  Transcrevo abaixo a notícia do falecimento de CJM, tal como foi publicada no DD de 28 de julho de 1877- p.3 (a mesma edição do jornal publicou na p.4 o convite para a sua missa de 7º dia):

PASSAMENTO- Na noite de 25 do corrente entregou a alma ao Criador o tenente coronel Caetano José Munhós, chefe de numerosa prole e negociante desta praça, vítima de um ataque.
   Cidadão conspícuo e importante, o finado deixa na terra esposa de segundas núpcias, muitos filhos e amigos.
   Há muitos anos habitando esta capital, o tenente coronel Munhoz dedicou-se logo de começo ao comércio, que lhe apresentou uma fase menos lisonjeira, sorrindo-lhe a fortuna justamente nos seus últimos anos de existência.
   Bastante considerado por seus comprovincianos, tendo ocupado importantes cargos de nomeação e eleição popular, o finado desce ao túmulo rodeado de amigos e parentes, depois de ter prestado ao seu país os serviços exigidos.
                                    Esta redação expressa à família do morto sinceros pêsames.

           De fato, nos “últimos anos de existência” de CJM, a conjuntura  econômica do mate era bem mais favorável que a da primeira metade da década de 1870, segundo P.C. Padis. Para esse autor, com o enfrentamento local do problema da falsificação melhora a qualidade do nosso mate e ele

se valoriza em relação ao paraguaio. Além de melhores preços, o produto paranaense sofreu uma elevação de mais de 25% nas quantidades exportadas, entre 1875 e 1879, de forma que, por essa época, três quintas partes do mate consumido na América do Sul eram provindas do Paraná (1).

Isso lhe proporcionou uma renda considerável. Como vimos antes, na lista, publicada pelo DD em 1876, dos cidadãos da paróquia de N.Sra da Luz de Curitiba aptos a votar, a renda anual de CJM situava-se então entre 3.000$000 e 3.600$000 (2).

Também o jornal “Província do Paraná”, edição de 27 de julho de 1877- p.3, de oposição, declaradamente vinculado ao Partido Liberal, publicou o seguinte necrológio, revelador da consideração que CJM desfrutava em seu meio social, inclusive por parte de adversários políticos:

   Faleceu ontem (sic) (*), repentinamente, às 4 horas da manhã, o sr. tenente coronel Caetano José Munhós, chefe de numerosa família.
Descendente de uma importante família de Paranaguá, veio o tenente coronel Caetano José Munhós ainda muito jovem para esta capital, dedicando-se sempre à vida comercial, que tanto honrara.
     Aceite sua exma. família a parte que tomamos em sua justa dor.
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(*) A data da morte foi 25 de julho, conforme consta inclusive em sua pedra tumular, no  Cemitério Municipal S.Francisco de Paula, onde CJM foi sepultado. 

Vale destacar que em Antonina um negociante de jóias aí residente chamado Manoel Jacintho Dias mandou celebrar missa pelo seu amigo, tenente-coronel CJM. É o que informa a “Província do Paraná” de 11 de agosto de 1877, p. 4.

No processo de inventário de CJM, já referido anteriormente, seu patrimônio foi avaliado em 24:960$000 (dos quais 23 contos e 500 mil réis correspondiam aos dois engenhos, à casa da rua do Comércio e a 4 escravos).

Quando CJM faleceu havia uma dívida de 13:493$853, que com a continuação de funcionamento dos engenhos efetivada por sua viúva (D. Narcisa), no período agosto/1877-meados de julho/1878, ficou reduzida a 7:514$481, dos quais 5:849$496 correspondiam a dívidas com o consignatário Silva & Irmão, de Montevidéu (dados do processo de inventário de CJM).

O valor líquido do patrimônio, após a dedução das dívidas, deveria ser repartido entre a viúva, D. Narcisa, os cinco filhos que teve com CJM, vivos em 1877-78, além dos dez filhos do 1º casamento.  

Mas essa expectativa dos herdeiros quanto à participação no espólio foi brutalmente afetada pelo incêndio de grandes proporções ocorrido em 27 de abril de 1879 no engenho da Glória (cf cap. 4 deste trabalho), que representou um prejuízo estimado entre 10 e 12 contos de réis pelo Chefe de Polícia Luís Barreto Correa de Menezes em seu relatório, referido antes. Isso certamente agravou a situação financeira da família, em especial da viúva D. Narcisa e seus cinco filhos menores de idade. 

      
NOTAS


(1) PADIS, Pedro Calil—“Formação de uma Economia Periférica: O Caso do Paraná”.S.Paulo: Hucitec; Curitiba:Secretaria da Cultura e do Esporte do Estado do  Paraná, 1981- p. 51 e 53

(2) DD de 3.05.1876- p. 4; DD de 19.08.1876- p. 3









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